De repente uma porta fecha-se.
A sombra passa à frente da luz que passa pelo vidro da porta e o rosto aparece meio desaparecido na penumbra. Procura chamar a atenção mas a atenção da sala está concentrada na atenção de cada um em não prestar atenção a nada. Desce as três pequenas escadas de madeira em frente à porta em direção ao centro da confusão da sala. Não diz uma única palavra.
Senta-se numa cadeira ao lado de outros três que estão a ler o jornal de há três dias atrás mas o que importa é a intenção; Sim, essa! A de não prestar atenção.
No meio da multidão cresce o barulho e eis que o barulho se impõe na escuridão do silêncio quente da sala. Um dos presentes ainda se tenta refrescar com um papel dobrado em forma de leque manual. Depressa o calor passa e a chuva lá fora começa a trazer aos irrequietos a memória de uma roupa estendida no exterior das suas casas ou uma janela mal fechada. "A minha casa vai estar encharcada", pensam eles.
O mal disto tudo é que alguém que chegou ainda está ali à espera, à espera de não saber bem o quê, se de uma carta mal escrita ou de um conselho mal dito. "Mais me valia ter ficado em casa que isto hoje não vai dar em nada".
Um olhar cruzado entre dois intervenientes depressa se descruza com a consciente ideia de pecado no olhar depravado do outro.
É chegada, então, a hora de se afastarem todos. Mas cada um para o seu quarto. O seu quarto privado, o seu pequeno mundo. Já vão poder recolher a roupa que deixaram estendida e fechar a janela do quarto.
Sem comentários:
Enviar um comentário